Para odontóloga, Dia Mundial Sem
Tabaco, celebrado no dia 31 de maio, é oportunidade para refletir sobre todos
os malefícios da cultura tabagista
A epidemia de tabaco é uma das
maiores ameaças à saúde pública do mundo, sendo responsável pela morte de mais
de 8 milhões de pessoas por ano, segundo informações da Organização
Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Nesse contexto, o Brasil possui uma das maiores porcentagens de fumantes que
consomem mais de 11 cigarros por dia, totalizando 39%, conforme divulgado
pela Agência Brasil. Diante desse cenário, às
vésperas do dia 31 de maio – data criada em 1987 pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao
tabagismo – a odontóloga especialista em Endodontia Microscópica Márcia Luz
destaca também como o uso da substância agrava problemas de saúde bucal.
Márcia Luz enumera que as
principais doenças relacionadas à saúde bucal ocasionadas pelo uso do tabaco
são o câncer de boca, doença periodontal, sangramento de gengiva, halitose,
manchas nos dentes, na língua e na mucosa. “A alta temperatura do cigarro
favorece a proliferação das bactérias, em especial das que provocam doenças na
gengiva, como a gengivite e a periodontite. Além disso, as alterações causadas
na cavidade bucal pela exposição prolongada a substâncias químicas presentes no
cigarro podem levar a uma mutação gradual de células sadias da boca, podendo
levar ao câncer bucal”, esclarece. Vale lembrar também que o alcatrão, presente
no cigarro e na fumaça, mancha os dentes e causa mau hálito.
De acordo com a odontóloga,
outra situação agravada pelo uso do tabaco é a efetividade de alguns
procedimentos odontológicos que acaba ficando prejudicada. “Um paciente não
fumante pode fazer o procedimento de limpeza de seis em seis meses, já o
fumante, após um ou dois meses da profilaxia e da limpeza, já apresenta dentes
manchados e amarelados como antes”, conta. Ela acrescenta que nas reabilitações
estéticas, o problema é o mesmo, pois, a depender do material utilizado, a
longevidade do branco conquistado também é reduzida, pois as substâncias
químicas do cigarro continuam a pigmentar as facetas ou lentes de contato do
paciente.
Outra situação preocupante
envolve os procedimentos cirúrgicos que são os mais invasivos. Novamente, a
elevação da temperatura bucal entra em questão, porque após a realização de
cirurgias – sejam elas periodontais, implantes, extrações de dentes, dentre outros
– o uso do cigarro não é recomendável por prejudicar a cicatrização. “Com o
aumento da temperatura, ocorre uma vasodilatação que deixa a cavidade oral mais
propensa à hemorragia e uma dificuldade na cicatrização. Então, todo e qualquer
procedimento odontológico tem o seu prognóstico, ou seja, a chance de dar
certo, diminuída, em pacientes fumantes”, pontua.
Cultura tabagista
Recentemente, tem sido comum a
popularização de casos de jovens com doenças graves em razão do uso do cigarro
eletrônico, o chamado Vape. Como foi o caso do técnico de enfermagem Jonathan
Belcher, de 22 anos, que teve o pulmão perfurado pelo uso excessivo do
dispositivo, segundo noticiou o jornal O Globo. O jovem começou a fumar aos 17
anos e consumia a quantidade equivalente de 20 tabacos por dia. Apesar do
cigarro eletrônico não precisar da queima do tabaco como o cigarro, seu uso faz
parte de uma cultura tabagista que está fortemente disseminada socialmente no
Brasil e no mundo.
O médico oncologista
do Hemolabor, Francisco Borges Filho, alerta sobre os riscos da popularização
do vape, que tem uma adesão muito grande na população jovem. “O cigarro
eletrônico, ao contrário do que muitos pensam, é nocivo à saúde, tem a
capacidade de causar problemas respiratórios, inflamatórios no pulmão e está
relacionado a problemas crônicos e surgimento de tumores. Por apresentar uma aparência
mais agradável, ele tem crescido a adesão entre os jovens, que podem ter
problemas de saúde a curto prazo”, alerta.
Além dos prejuízos já
mencionados para a saúde bucal, o cigarro é um dos principais fatores de risco
para câncer e outras doenças graves, considerado a maior causa evitável isolada
de adoecimento e mortes precoces em todo o planeta. “Dados da OMS apontam que
cerca de 80% dos mais de um bilhão de fumantes do mundo vivem em países de
baixa e média renda onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é
maior. Os números apresentam uma situação muito grave e é preciso conscientizar
a população de que tabagismo é doença, que causa milhares de mortes, mas que
tem tratamento. Nunca é tarde para parar de fumar”, alerta o oncologista.
O Dia Mundial sem Tabaco traz,
portanto, a reflexão de que é preciso romper com esse imaginário de que, por se
tratar de uma droga legalizada, não há malefícios e efeitos altamente
prejudiciais, como das drogas ilícitas. Nesse sentido, Márcia Luz destaca que
melhorou muito a forma de divulgação do cigarro na mídia e avalia que o mesmo
movimento precisa ser feito com relação às demais formas de fumar.
“Antigamente, tínhamos propaganda na televisão como se fosse algo benéfico.
Hoje, isso já não é permitido mais. Então, é importante que as pessoas saibam
do mal que estão fazendo para a saúde como um todo”, arremata.